[Retroprojetor #54] Somos Tão Jovens

10 de maio de 2013



Somos Tão Jovens
Direção: Antonio Carlos da Fontoura
Gênero: Nacional/Drama/Biográfico
Duração: 104 minutos

Voltamos com a resenha duas em uma! Como escrever o Retroprojetor duplo deu certo da última vez, resolvemos repetir a experiência. Mais uma vez, o que esquema é de um parágrafo pra cada uma - Marcelle em preto, Thainá em Azul. E essa semana o filme é Somos Tão Jovens, que retrata a juventude do ídolo do rock nacional Renato Russo, assim como mostra o cenário musical de Brasília nos tempos da ditadura. Uma aula de história feita de amor.

Somos tão Jovens não começou agradando muito. Eu estava já preparada para relevar coisas e gostar do filme, afinal é a história do Renato Russo, cheio de músicas muito boas, de bandas que eu gosto muito. Mas, como nós concordamos no final, os atores melhoraram muito durante o filme. No início, as atuações pareciam todas forçadas, e me lembrava teatro de colégio. O Thiago Mendonça (Renato Russo), o Bruno Torres (Fê), o Daniel Passi (Flávio) e o Sérgio Dalcin (o Sul-africano André Pretorius (muito esquisito))... as cenas deles não desenvolviam de maneira natural. Mas, em algum momento, tudo mudou. Eu não sei se eles tiraram umas férias de gravação, ou fizeram algum ritual, mas as coisas melhoraram bastante, e eu consegui, então, me envolver com o filme e aproveitá-lo.

Eu também tive uma surpresinha desagradável com as atuações, no começo. As frases pareciam forçadas, a poesia parecia tentar sair de qualquer jeito pelas palavras do Renato Russo wannabe. Nas primeiras cenas senti que o Thiago Mendonça estava fingindo ser o Renato, e não realmente atuando, incorporando o personagem. Outros atores, alguns novatos e carinhas mais conhecidas, não apresentaram o mesmo problema e foram amor do início ao fim, mas, de modo geral, todos eles estavam melhor da metade pro final (tudo bem que alguns entraram e saíram e só me deixaram horrorizada, como o Dalcin-Pretorius com sotaque americanizado digno de Casseta e Planeta... ). Ainda sim, fiquei surpresa com a semelhança deles com quem eles deviam representar, com os trejeitos que assumiram direitinho, com o Herbet Vianna caricato e super realista e o Dinho cheio daqueles maneirismos e até o mesmo jeito de falar (sem falar da cara, ele era igualzinho!). Adorei, adorei mesmo o cast, não só por como eles se pareciam, mas por que se desenvolveram bem no decorrer da história.

Eu não conhecia a história do Renato Russo, nem da Legião Urbana. O que eu eu sempre soube é que existia a Aborto Elétrico, eles acabaram a banda, e aí veio a Legião Urbana e a Capital Inicial. Detalhe que eu curti muito o menino (Ibsen Perucci) que faz o Dinho porque ele não só é uma graça, como também se parece muito com ele fisicamente e se mexe de maneira muito parecida. Mas o que eu quero dizer é que eu não sei quão bem adaptada foi essa história. Eu só sei que eu gostava mais do Renato Russo antes desse filme – brincadeira, ele era bem chato, mas ainda um gênio.

Eu também conhecia pouco da história da Legião, a banda. Eu sabia que o aborto elétrico havia existido, que eles haviam se dividido e repartido as letras, que o Capital começou logo depois, com o Dinho tomando os vocais, mas não sabia exatamente com o Renato juntou o pessoal na Legião. Do Renato Russo, mesmo, eu sabia alguma coisa, por que já havia visto um documentário em que todo mundo dizia o quanto ele era dramático e cheio de vontades, mas eu nunca imaginei que ele fosse tamanha Drama Queen. Ele tinha suas manhas e manias, sentia demais, sofria demais e era muito, muito adolescente (pra um jovem adulto), mas ainda era um gênio. Suas letras e suas músicas estão aí pra não me deixar mentir. Mas que ele era esquisitinho, ah era. 

Não sei se o dinheiro de orçamento do filme foi todo muito bem empregado. Levando em consideração que, antes de ele começar realmente, passam uns 307 logos de patrocínio. Acredito que podiam ter investido algum dinheiro a mais, ou melhor. Estamos contando a história de músicas que fazem sucesso há mais de 30 anos, por favor. Parece tão bom contar histórias de coisas bonitas que nasceram no Brasil, não? Mas, ainda assim, o que mais me incomodou foi a atuação inicial, era um pouco vergonha alheia.

Sem dúvida, o maior problema do filme foram os primeiros trinta, quarenta minutos. O filme já começou com o tombo de bicicleta mais bizarro da história da televisão/cinema/teatro-de-esquina da história, e aí jogou na gente a atuação forçada e o português de livro e as frases famosinhas das músicas da Legião no meio das conversas do Renato com os amigos e a família - o que parecia meio nonsense, apesar da genialidade do Renato e tudo. Acho que eles queriam passar a ideia de que o Renato Russo respirava poesia e falava em música, mas só saiu meio afetado, meio forçado. Mas foi melhorando, eu juro x)

O que foi mais legal, depois de ser um filme cheio de músicas que eu adoro, contando a histórias de bandas que eu adoro, foi o relacionamento do Renato Russo (eu tentei deixar só Renato, mas não tem como, uma coisa leva à outra) com a Aninha (Laila Zaid). Sempre muito amigos e muito fofos, era sempre com ela que ele podia contar. Aninha foi a inspiração para uma das músicas que eu mais amo e o resultado foi a cena mais emocionante do filme. E a minha preferida. Sim, eu saí do cinema com uma cena preferida. 

Também adorei o relacionamento dos dois. Aliás, acho que a Aninha em si já era uma super personagem, com as ideias próprias  as vontades, a capacidade de dobrar e aguentar os rompantes do Renato. Acho que também ajudou o fato da Laila já ser bem conhecidinha (da minha época negra de malhação, beijos) e de ter uma atuação consideravelmente melhor do que o resto do núcleo jovem/nascidos no rock do filme. Também adorei ver como o Renato se inspirava em gente de verdade e coisas pequenas pra compor músicas tão queridas, como Faroeste Caboclo (que também vai pro cinema, com a Isis Valverde, ai Jesus!) e Eduardo e Mônica e, uma das minhas favoritas, Ainda é Cedo, que realmente resultou na cena mais emotiva do filme meus olhinhos encheram d'agua e tudo, desculpa Brasil

Sendo assim, é claro que, se você gosta de Legião Urbana, ou da Aborto Elétrico, ou do Renato Russo, você é obrigado a ver esse filme. E, para deixar claro, da metade para o final, ele é muito bom. Então, acho que, de qualquer forma, eu recomendo que você veja Somos tão Jovens. Então vai, vai ver logo!

Como boa menina criada á base de amor e Legião Urbana nos LPs do papai, adorei poder ver a história daquele que é, provavelmente, o meu compositor e cantor favorito da música nacional (também tem o Cazuza e o Caetano, mas ok). Só fiquei um pouco decepcionada com a falta da história da Legião, a banda mesmo, no filme. Passamos muito mais pelas idas e vindas do Aborto Elétrico e da breve carreira solo do Renato, antes da formação da minha banda nacional favorita. Fiquei com vontade de um Somos Tão Jovens Parte 2, pra contar a história e o sucesso e a decadência da banda mesmo, a parte rock'n'roll do sucesso deles, algo como a trajetória do filme do Cazuza, que é a coisa mais amor do mundo. Mesmo assim, e mesmo com todas as falhas do começo, o filme vale a pena. E olha que eu não costumo gostar de filme nacional, hein! Mas esse tá valendo. Tá amor. Tá Legião.


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